Capitalismo pop: A influência do city pop japonês na cultura de consumo
É indispensável afirmar que o contexto político, seja ele social ou econômico, muda toda a estrutura de uma sociedade, fazendo até mesmo grandes revoluções socioculturais. Seja no cinema, na TV e também claro, na música.
E no Japão não poderia ter sido diferente. Desde sua derrota histórica na 2° Guerra Mundial, após o ataque de Pearl Harbor, o país tem sido bem esforçado em sua reconstrução de um conflito que lhe deixou terríveis sequelas. E para sair desse infortúnio, a única saída foi realizar um acordo com os norte-americanos, que além de pagar impostos como uma maneira de indenizar os ataques cometidos, o território também teria de ser ocupado por eles como uma forma de garantia de sua passividade e por fim impedir a disseminação chinesa e soviética no país, além do antiamericanismo que era presente. Um modo de “controle” para que nenhuma revolução fosse acontecer, visto que o território possuía laços com países comunistas como China, Coreia e Vietnã.
Em viés de todo esse domínio norte-americano, o Japão então teve seu chamado "Milagre Econômico", popularmente chamado de "milagre econômico japonês", no qual como próprio nome já sugere, faz a economia japonesa prosperar como um milagre, graças aos investimentos daquele país sobre o Japão.
Em 1965, o PIB nominal do Japão foi estimado em pouco mais de US $ 91 bilhões. Quinze anos depois, em 1980, o PIB nominal subiu para um recorde de US $ 1, 065 trilhões (JOHNSON, Chalmers). E em meio dessa prosperidade, houve inúmeras viradas culturais, principalmente inspiradas no ocidente e no meio de tanta coisa surgiu o City Pop, gênero musical que se tornou popular na época.
Surgido no final da década de 1970, em meio da época de ouro, ele possui raízes no Jazz Americano, Groove e Funk, oriundos da forte influência dos EUA sobre o país, resultando o que foi pode-se descrever não do que era o Japão daquela época, e sim o Japão que queria mostrar a sua população. Um verdadeiro American Way Life estilo japonês. Era o período da chamada “Bolha Econômica".
As letras do City Pop não só descrevem os prazeres do "boom" econômico, mas também a falsa alusão de como era a vida na cidade. Acompanhadas de batidas alegres e vibrantes, se gabavam da satisfação social, regozijo financeiro, festas noturnas, consumismo, e tudo mais. Prazeres que só o sistema econômico capitalista ocidental seria capaz de trazer, ignorando qualquer traço de sua identidade, que agora outra havia tomado seu lugar. E com bastante incentivo da burguesia local, que até então havia se encantado com as maravilhas que os norte-americanos seriam capazes de entregar.
Nenhum tipo de problema social era abordado, pelo contrário, eram mascarados, visto que os americanos dominavam de forma severa o país. Direitos trabalhistas eram escassos, sindicatos eram cassados e todo tipo de manifestação ou protesto eram hostilizados e proibidos.
Sua estética é o que suas letras abordam, ambientes urbanos, geralmente noturnos, grandes prédios, carros luxuosos, dias ensolarados, pôr-do-sol em estilo neon, cores vibrantes. Explora-se muito a ideia do “futuro". Acreditava-se que o Japão era o país do futuro, por conta de seus créditos financeiros dados e incentivo às tecnologias.
Dentre as tecnologias se destaca a criação do walkman, jogos, computadores, diversos outros tipos de eletrônicos.
Porém, esse período de ascensão econômica chegou ao fim na década de 90, e por conseguinte, a explosão do City Pop também foi enfraquecida, sua bolha foi então estourada. Em meio de uma crise seria impossível cantar os gozos de uma vida consumista.
A partir disso, é inegável não poder citar como a ascensão capitalista e a dominação ocidental pode utilizar a música, além de outros meios culturais não citados nesse texto como um estímulo, massificação e introdução de uma cultura dominante sob outra, e como as identidades são perdidas em razão disso. Isso é puro reflexo da globalização, ou algo que Giddens diria ser a Ocidentalização.
O City Pop carregava em arranjos sempre alegres, cativantes como maneira de demonstrar o bem-estar social promovido pelo capital, mostrado muitas vezes em suas letras. A música na sociedade está diretamente relacionada à produção de poder e conflito (NETO, Manoel J de Souza), já que esse estilo foi fortificado depois da dominação americana no país e estimulado até chegar seu fim. Sendo assim, ele teve um papel fundamental na guerra fria como uma poderosa arma contra a ideologia soviética na guerra fria. Marx poderia descrever isso como "instrumento de comunicação de massas", pois existe ali o promotor dessa ideia, o influenciador, dono de todo aquele poder, que por coincidência ou não, dono também do modo de produção, onde vende a sua imagem para as populações demais, que "alienada" (no sentido em que Marx descrevia) acaba comprando esse estilo de vida. E com isso, conclui-se como o Estado, detentor de um certo poder tem sobre indivíduos mais fragilizados. Seguindo a lógica de Marx, podemos citar a dialética que ocorre entre eles. Sendo descrita geneticamente, existe uma oposição, contradição entre dois indivíduos. Nesse caso, entre Estados Unidos e Japão. Onde o primeiro encarregado de tanto poder foi capaz de assumir uma nova identidade sob outro, a fim do benefício próprio.