A Genialidade de Turn On The Bright Lights

Beatriz Valentim
4 min readNov 6, 2021

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Imagem: Ben Stas

Em 2002, os nova-iorquinos da banda Interpol que possuíam grandes influências de bandas como Joy Division, The Cure e Echo & The Bunnymen, debutaram com bastante elegância seu álbum Turn On The Bright Lights, que foi considerado pela Pitchfork e por críticos musicais renomados como o melhor disco lançado aquele ano e por muitos como uma obra-prima, além de inúmeras críticas positivas. E essa fama não é levada sem nenhum motivo, a banda é uma das maiores percussoras do Post-Punk Revival, e por conseguinte, se destaca em meio de inúmeras obras do indie rock lançadas naquela mesma época.

O disco não possui algo ao nível revolucionário, pois os Strokes há um ano antes já faziam algo semelhante com o ‘Is This It’, falando em termos de gênero musical e com o renascer do Post Punk. Como consequência, esses foram chamados de “salvadores do rock”, pois por algum motivo, o rock necessitava ser salvo por parte da grande mídia.

Sua capa possui uma arte um tanto quanto misteriosa. Uma combinação de um vermelho vívido e assustador em contraste com a cor negra tão áspera que quase deixa os objetos da imagem irreconhecíveis. Chama muito a atenção, mas não de uma forma desagradável ou negativa e sim curiosa.

O disco começa com ‘Untitled’ que dita “I will surprise you sometime”, de fato, a banda surpreende bastante logo ao início possuindo uma atmosfera bem obscura, gótica e de sons carregados com uso bem distinto de teclado e marcantes riffs de guitarra e não deixaria de poder citar o vocal descontraído e um pouco irônico de Paul Banks durante a canção.

Logo em seguida começa ‘Obstacle 1’, seu single mais conhecido até hoje, perdendo apenas para ‘Evil’ do álbum sucessor. Constitui batidas frenéticas do baterista Sam Fogarino e em sequência um vocal suave e sem fôlego que presenteia a canção com um certo clímax e riffs de guitarra bem agudas simplistas que me deixaram fascinada.

Possui uma letra bem sombria por ser inspirada em um caso de suicídio cometido por uma jovem modelo, nesse caso notamos nos versos “You go stabbing yourself in the neck”. Conseguimos notar algumas semelhanças com a banda Joy Division lembrando músicas como ‘She Lost Control’ rapidamente no seu início e ‘Disorder’ por toda a extensão da música.

‘NYC’ nos entrega uma visão bem diferente de Nova York que os Strokes, já citados antes, construíram há exatamente no ano anterior, assim como todas as músicas no geral com seus elementos típicos da cidade. Alguns versos como “I’m sick of spending these lonely nights/ training myself not to care” dão uma visão mais a estilo Radiohead em seu tipo lírico.

‘PDA’ possui uma sonoridade ansiosa, raivosa e bastante agitada ao meu ouvir. O melhor dela é sem dúvida os minutos finais com seu solo de guitarra e vocais aguçados de Daniel.

Ao longo do disco podemos notar uma boa abordagem um pouco mais romântica com a música ‘Say Hello To The Angels’ (minha favorita) que dá a emoção que o autor se sente em relação à sua parceira notavelmente de cabelos vermelhos nos versos “I see you in the doorway/ I can’t control the part of me that spells up when you move into my airspace” onde é possível entender que quando está junto a ela, se sente em um paraíso podendo até ser capaz de dizer ‘olá para os anjos’.

O que não poderia deixar de comentar são os incríveis riffs de ‘Roland’ e as fantásticas linhas do contrabaixo de Carlos Dengler que dão autenticidade e um charme a mais em músicas como ‘Stella Was a Diver and She Was Always Down’, ‘The New’ e ‘Leif Erikson’, com letras taciturnas e de quebra um ritmo mais lento que as demais como Hands Away que se encontra no meio do disco, onde encerram o álbum da melhor forma possível.

É um disco “montanha-russa” com músicas bem melancólicas seguidas de outras agitadas.

Havia lido um comentário pela internet que dizia que esse disco era como se Ian Curtis não tivesse falecido ou que Interpol seria o fantasmas de sua banda. De fato esse disco se assemelha bastante ao seu trabalho, porém sem se tornar uma cópia ou algo do tipo. Mesmo com essas influências, conseguiram criar algo único, singular e com sua própria personalidade.

É o melhor presente preto e vermelho que recebi ao acender as luzes brilhantes.

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